No princípio era tudo preto
Jane de Almeida
Aldo Tambellini é um artista Americano-Brasileiro-Italiano, reconhecido internacionalmente por um trabalho pioneiro que explorou as novas tecnologias da década de 1960, combinando slides, fotografias, filmes e também pintura, escultura, áudio e performance.
A exposição No princípio era tudo preto, realizada online, apresenta obras inéditas de Tambellini no Brasil, com grande variedade de mídias e elementos a serem explorados por uma audiência que vê pela primeira vez o conjunto pulsante da uma obra singular. Juntamente com esse acervo, proveniente da Harvard Films Archive, estão sendo expostos cartões postais e cartas, internacionalmente apresentando uma relação pouco conhecida de Tambellini com São Paulo.
Nos últimos anos, Aldo Tambellini tem exibido seus trabalhos em importantes instituições como a Tate Modern (2018 – 2020), MoMA (2013), ZKM (2017), Centre Georges Pompidou (2012) e a Bienal de Veneza (2015). Este reconhecimento recente reflete suas obras pioneiras no cenário artístico de Nova York durante 1950 e 1960, com peças dedicadas ao ativismo político e preocupações filosóficas sobre a comunidade artística.
A exposição No princípio era tudo preto, produzida em parceria com a The Aldo Tambellini Foundation e CASANOVA, exibe os filmes da série Black (1965-1969), bem como um conjunto de obras fotográficas e áudio-poemas, agrupados online para uma visão geral do trabalho prolífico do artista.
Tambellini interveio nos filmes em sua fisicalidade, para discutir a materialidade do meio, raspando a película e usando química e tinta para repintar os quadros. Partindo de questões filosóficas sobre a matéria negra, sua produção artística encontra um forte ativismo político do movimento negro com as vozes de manifestações dos anos 60 nos Estados Unidos. Seus filmes combinam sons variados como uma bateria africana e comentários sobre o assassinato de Bobby Kennedy, além de imagens abstratas de rostos de políticos e negros, além de imagens de televisão. O espectador se surpreenderá com a atualidade temática e visual de seus métodos na década de 1960, como o racismo, protestos, telas divididas, projeções com múltiplas telas. No entanto, as composições inquietantes de abstrações imagéticas e sonoras conferem à sua obra uma potência que transpõe a curiosidade histórica.
Seus áudios além de serem poéticos são reflexões sobre arte e política – em grande parte sobre as políticas das artes – que encontraram uma forma inusitada de expressarem a voz do cidadão americano e do artista. Uma seleção desses poemas e ensaios foi publicada em 2017 pela Grady Miller Books.
Acima de tudo, há uma referência importante nas obras de Tambellini: a junção do conceito de preto em diferentes nuances – o preto do racismo, o preto como um princípio da física atômica, o preto como o início da civilização humana, o preto do fotograma e também como um ponto cego. Os negativos e as imagens do filme articulam diferentes formas de abstração obsessiva do preto, evidenciando aquilo que Tambellini afirma a respeito de seus filmes como “pinturas em movimento”.
Além dos filmes, serão exibidas duas séries de fotografias abstratas, chamadas Videogramas e Lumagramas, imagens feitas com impressão direta da tela de vídeo sem uso de câmera. A exposição terá ainda o privilégio de apresentar as cartas e cartões postais do período em que Tambellini viveu em São Paulo, com vívida introspecção sobre a cultura de seus antepassados brasileiros. Seu avô paterno italiano, Paul, foi um plantador de café em São Paulo, local onde nasceu seu pai John. Em 1983, após a sua apresentação na Bienal de São Paulo, como representante do MIT (Massachusetts Institute of Technology), Aldo Tambellini explorou a região e escreveu cartas para sua companheira da época relatando as cores, os sons, as sensações que vivenciou nessa ocasião, assim como seus encontros artísticos com os pioneiros da arte “eletrônica” da época no Brasil. A audiência poderá testemunhar um encontro cultural genuíno de um artista americano-italiano que reivindica também ser brasileiro. A exposição No princípio era tudo negro tem o privilégio de denominá-lo “artista americano-italiano-brasileiro”.
A mostra estará disponível online de 1º de outubro até o final de dezembro de 2020. Durante este período, será atualizada com uma série de entrevistas em vídeo com curadores e pesquisadores e uma conversa especial ao vivo com Aldo Tambellini em dia a ser agendado.
No princípio era tudo preto
Jane de Almeida
Aldo Tambellini é um artista Americano-Brasileiro-Italiano, reconhecido internacionalmente por um trabalho pioneiro que explorou as novas tecnologias da década de 1960, combinando slides, fotografias, filmes e também pintura, escultura, áudio e performance.
A exposição No princípio era tudo preto, realizada online, apresenta obras inéditas de Tambellini no Brasil, com grande variedade de mídias e elementos a serem explorados por uma audiência que vê pela primeira vez o conjunto pulsante da uma obra singular. Juntamente com esse acervo, proveniente da Harvard Films Archive, estão sendo expostos cartões postais e cartas, internacionalmente apresentando uma relação pouco conhecida de Tambellini com São Paulo.
Nos últimos anos, Aldo Tambellini tem exibido seus trabalhos em importantes instituições como a Tate Modern (2018 – 2020), MoMA (2013), ZKM (2017), Centre Georges Pompidou (2012) e a Bienal de Veneza (2015). Este reconhecimento recente reflete suas obras pioneiras no cenário artístico de Nova York durante 1950 e 1960, com peças dedicadas ao ativismo político e preocupações filosóficas sobre a comunidade artística.
A exposição No princípio era tudo preto, produzida em parceria com a The Aldo Tambellini Foundation e CASANOVA, exibe os filmes da série Black (1965-1969), bem como um conjunto de obras fotográficas e áudio-poemas, agrupados online para uma visão geral do trabalho prolífico do artista.
Tambellini interveio nos filmes em sua fisicalidade, para discutir a materialidade do meio, raspando a película e usando química e tinta para repintar os quadros. Partindo de questões filosóficas sobre a matéria negra, sua produção artística encontra um forte ativismo político do movimento negro com as vozes de manifestações dos anos 60 nos Estados Unidos. Seus filmes combinam sons variados como uma bateria africana e comentários sobre o assassinato de Bobby Kennedy, além de imagens abstratas de rostos de políticos e negros, além de imagens de televisão. O espectador se surpreenderá com a atualidade temática e visual de seus métodos na década de 1960, como o racismo, protestos, telas divididas, projeções com múltiplas telas. No entanto, as composições inquietantes de abstrações imagéticas e sonoras conferem à sua obra uma potência que transpõe a curiosidade histórica.
Seus áudios além de serem poéticos são reflexões sobre arte e política – em grande parte sobre as políticas das artes – que encontraram uma forma inusitada de expressarem a voz do cidadão americano e do artista. Uma seleção desses poemas e ensaios foi publicada em 2017 pela Grady Miller Books.
Acima de tudo, há uma referência importante nas obras de Tambellini: a junção do conceito de preto em diferentes nuances – o preto do racismo, o preto como um princípio da física atômica, o preto como o início da civilização humana, o preto do fotograma e também como um ponto cego. Os negativos e as imagens do filme articulam diferentes formas de abstração obsessiva do preto, evidenciando aquilo que Tambellini afirma a respeito de seus filmes como “pinturas em movimento”.
Além dos filmes, serão exibidas duas séries de fotografias abstratas, chamadas Videogramas e Lumagramas, imagens feitas com impressão direta da tela de vídeo sem uso de câmera. A exposição terá ainda o privilégio de apresentar as cartas e cartões postais do período em que Tambellini viveu em São Paulo, com vívida introspecção sobre a cultura de seus antepassados brasileiros. Seu avô paterno italiano, Paul, foi um plantador de café em São Paulo, local onde nasceu seu pai John. Em 1983, após a sua apresentação na Bienal de São Paulo, como representante do MIT (Massachusetts Institute of Technology), Aldo Tambellini explorou a região e escreveu cartas para sua companheira da época relatando as cores, os sons, as sensações que vivenciou nessa ocasião, assim como seus encontros artísticos com os pioneiros da arte “eletrônica” da época no Brasil. A audiência poderá testemunhar um encontro cultural genuíno de um artista americano-italiano que reivindica também ser brasileiro. A exposição No princípio era tudo negro tem o privilégio de denominá-lo “artista americano-italiano-brasileiro”.
A mostra estará disponível online de 1º de outubro até o final de dezembro de 2020. Durante este período, será atualizada com uma série de entrevistas em vídeo com curadores e pesquisadores e uma conversa especial ao vivo com Aldo Tambellini em dia a ser agendado.